Lobão, Nasi e Roger

O próximo Rock & Dance reunirá três lendas do rock nacional para uma apresentação inédita. Pela primeira vez no mesmo palco Lobão, Nasi (do Ira!) e Roger (do Ultraje a Rigor) mostrarão o poder de um dos gêneros mais populares do País e sucessos que ultrapassam gerações.
Antes do encontro histórico no Salão de Festas, os roqueiros conversaram com a Revista ECPinheiros sobre carreira, sucesso e, claro, o show no Clube. Saiba mais sobre o evento e grave na agenda!

Como é ter suas músicas cantadas por diferentes gerações?
Lobão: Engraçado isso, eu nunca pensei. Penso mais no que estou fazendo agora. Eu sou compositor, não tenho muito contato com essa realidade. Se é atemporal ou não. Sempre estou pensando na próxima música.

Nasi: Sem falsa modéstia, isso é o melhor patrimônio que um artista pode ter. Claro, eu vivo de direitos autorais, direitos conexos e, principalmente, de shows que faço Brasil afora, ao longo desses 35 anos de carreira. Ouvir as músicas que cantei e algumas que compus, eu e o Edgar Scandurra, e hoje essas músicas têm relevância não só para as pessoas da minha geração, nascidas nos anos 1960 ou 1970, mas para os garotos hoje de 18 ou 19 anos. Falo isso não só em meu nome e no nome de outros artistas dos anos 1980, mas como grandes nomes da música popular brasileira dos anos 1960 e 1970 também.

Roger: Bom, é claro que fico contente com isso. É claro também que me esforcei para que fosse assim, não é ao acaso que aconteceu. Mas fico muito orgulhoso de ver que fiz um bom trabalho.

Fazer rock hoje é diferente da época quando vocês começaram?
Lobão: O que é fazer rock em 2018? Estou cantando muito melhor, estou compondo muito melhor, estou gravando muito melhores discos. Acho que é isso.

Nasi: Sinceramente, sou um cara que, como muitos da minha geração, fizeram sucesso no rock sabendo que ia ser um fenômeno de mercado. Então, para mim não muda nada, sou um roqueiro nato, assim como o Edgar [Scandurra], o Herbert Vianna, o Roger, o Dado [Villa-Lobos], os saudosos Renato Russo e  Cazuza. A gente faz porque isso é essencial na nossa vida. Nós não escolhemos rock como uma opção de mercado, nunca fizemos parte de nenhum reality show, de um The Voice Brasil. Nada contra, mas nada a favor. Não é assim que se criam artistas. É o que eu sei fazer na vida.

Roger: Mudou tudo. Mudamos nós, mudou o ambiente, mudou a tecnologia, a forma como se produz música, o valor que se dá a instrumentistas, a forma de divulgar. O ambiente é mais inóspito com o politicamente correto (nada mais do que um instrumento de controle da esquerda). O público emburreceu, os ideais dos artistas são outros, a mídia é mais pragmática. Claro que também não tínhamos nada a favor na época, até comprar instrumentos era difícil. Mas o público era melhor e como gravar era caro, a curadoria das gravadoras
acabava por selecionar coisas melhores. As gravadoras também se preocupavam mais com arte, ao contrário das poucas que sobraram hoje em dia. Mas eu continuo tocando com o mesmo prazer, embora sem a mesma motivação.

“Nos anos
1980 o rock
entrou no DNA
da música
popular
brasileira” – Nasi

O auge do rock foi nos anos 80?
Nasi: O Rock não nasceu no Brasil nos anos 1980. Teve a Jovem Guarda nos anos 1960, teve elementos de rock no Tropicalismo, com Os Mutantes, Gilberto Gil, Caetano Veloso. Mas acho que nos anos 1980 o rock entrou no DNA da música popular brasileira. Então, foi uma avalanche de bandas e compositores cantando em português, isso é bom que se diga, que fizeram uma trilha sonora de um País que estava em transformação – com o fim da ditadura militar, da censura, e o advento das eleições diretas. Então você vê uma geração que tem Renato Russo, Cazuza, Herbert Vianna, Edgar Scandurra, Roger, Lobão. Isso para falar de músicas que fizeram a trilha sonora de um país que estava em ebulição e em transformação, visando um horizonte democrático.
Isso é muito bonito, é difícil que isso aconteça de novo. Espero que aconteça e acho que provavelmente irá acontecer.

Lobão o que você mais gosta da obra do Roger e do Nasi?
Lobão: O Ultraje a Rigor e o Ira! são as minhas bandas preferidas. O Roger tem uns 30 clássicos maravilhosos e a mesma coisa com o Ira!. Tanto é que eu canto com muito amor e muita emoção as músicas deles.

Nasi o que você mais gosta da obra do Roger e do Lobão?

Fotos 1 e 2: divulgação
foto 3: Iasmin daher

Nasi: Com relação ao Roger, eu gosto muito da irreverência das letras do Ultraje a Rigor, principalmentenos dois primeiros álbuns.
Apesar de isso ser uma coisa bem diferente do que eu fazia e faço com o Ira!, eu acompanhei toda a história da banda dele. A primeira demo do Ultraje a Rigor eu cantei uma versão dos The Beatles com eles, o Edgar deu o nome de Ultraje a Rigor. Faço uma música muito diferente da proposta deles, mas, ao mesmo tempo, gosto muito do som que eles fazem. Quanto ao Lobão, sou muito fã, o Ira!  já gravou músicas do Lobão no álbum Isso É Amor, acho ele um roqueiro nato, no sentido de ser polêmico, contraditório, mudar a vida dele e as opiniões dele a
todo instante. Sou muito fã do Roger e do Lobão.

E você Roger o que você mais gosta da obra do Nasi e do Lobão?
Roger: Difícil dizer. São artistas bem diferentes em suas propostas. Mas são iguais no idealismo, característica muito presente de nossa geração. Sempre pensamos na arte, não na fama ou no dinheiro. Claro que o dinheiro é bem-vindo, assim como o reconhecimento.
Mas nossa prioridade sempre foi fazer algo de que nos orgulhássemos.

Quais são suas expectativas para esse show? Haverá alguma surpresa?
Lobão: É uma celebração, um reencontro com amigos e muita emoção no palco.
Nasi: Eu já fiz vários shows no Pinheiros. Eu me lembro de um, inclusive, bem antigo, deve ter sido no início do Ira!, deve ter sido em 1984. Era o Ira! com uma formação que era o Charles Gavin, Dino, uma formação diferente da que gravou todos os discos da banda.
Lembro que esse show parecia que era um show dos Beatles. Nós entramos naquele teatro [Auditório do CCR] e foi aquela gritaria típica dos anos 1960, dos The Beatles. Então, essa foi minha primeira experiência no Pinheiros. Depois dessa, fiz outros shows, mais temáticos dos anos 1980.
Todos foram muito legais e esse não vai ser diferente. Será um prazer para mim estar ao lado do Lobão, do Roger, do [Luís Sérgio] Carlini. Tudo de bom.

Roger: Bom, a expectativa é sempre a mesma: agradar. Sempre tem alguma surpresa.