Às vésperas do Pan, Chiappini expõe a realidade do polo aquático no Brasil

Incansável no trabalho pela evolução do polo aquático no Brasil, Roberto Chiappini gostaria que a modalidade já estivesse mais adiantada no cenário internacional. Há 24 anos no Esporte Clube Pinheiros, o assistente técnico da seleção feminina nos Jogos Olímpicos Rio 2016 reconhece o talento e o esforço do atleta brasileiro, mas na contramão, lamenta a falta de atitude de alguns dirigentes esportivos, o que impede o País de obter resultados expressivos nas competições de grande porte, como Olimpíada e Mundial.

A rotina das seleções brasileiras, ao longo do período em que estou na modalidade, é, geralmente, ganhar o Sul-Americano com certa facilidade; brigar pelo bronze no Pan, com chance da prata, e disputar um décimo lugar no Mundial. É pouco. O Brasil possui qualidades individuais para formar seleções fortes, mas a estrutura é precária e precisa melhorar como um todo, porque o polo é um esporte coletivo”, afirma Chiappini, atualmente técnico e coordenador da modalidade no Pinheiros.

A exemplo do que foi feito nos Jogos Rio 2016, o treinador sugere uma ação emergencial para soluções a curto prazo. “É preciso importar novamente jogadores e manter uma seleção permanente, com intercâmbios constantes na Europa, mas para isso é preciso ter dinheiro. China, Austrália e Canadá fazem isso, mas seria apenas uma ação pontual, para dar visibilidade e referência. Não se sustenta a longo prazo”, ressalta Chiappini.

O Brasil montou equipes fortes para a Olimpíada de 2016. O time masculino contou com vários estrangeiros naturalizados brasileiros. Entre eles, apenas o goleiro sérvio, Soro, permanece na seleção que está disputando o Mundial na Coréia do Sul, além de três brasileiros: Grummy, Bernardo e Rudá. Ou seja, dos 13 jogadores do time olímpico, restam apenas quatro. Hoje, a seleção masculina conta com quatro pinheirenses e a feminina, com cinco atletas do clube.

BRASIL OPEN DE POLO AQUATICO 2018 | Esporte Clube Pinheiros | Foto: RicardoBufolin/ECP

Os Jogos de 2016 deveriam ter sido um marco para o desenvolvimento do esporte brasileiro, mas no polo aquático, especificamente, acabou a olimpíada, acabou o dinheiro e cada um foi para o seu canto”, lamentou Chiappini. O Brasil não disputava o polo em olimpíadas desde os Jogos de Los Angeles, em 1984, e competiu no Rio de Janeiro como país sede.

Caminho para Tóquio – A opção mais viável para que o Brasil se classifique para os Jogos de Tóquio em 2020, é vencer o Pan de Lima, que dará uma vaga ao campeão de cada categoria. “O feminino deve brigar pelo bronze e o masculino poderá disputar o ouro. Se tivermos de jogar os pré-olímpicos, ficará mais difícil por causa dos europeus”, observa Chiappini. A seleção feminina não obteve vaga para o Mundial e segue treinando para o Pan em São Paulo.

A filha do técnico pinheirense, Izabella Chiappini, trabalha duro para tentar ir para a sua segunda Olimpíada, mas desta vez com a seleção italiana, chamada carinhosamente de “Setterosa”. A atacante se transferiu para a Itália após os Jogos do Rio. Naturalizou-se italiana e está defendendo a seleção do país no Mundial. Na última temporada foi vice-campeã italiana pelo Sis Roma e vice da Liga Mundial pela Itália. “Ela está feliz da vida porque lá, as coisas no esporte funcionam. A confederação cumpre o papel dela como gestora”, enfatiza Chiappini.

O técnico lamenta que no Brasil, a situação não seja pelo menos parecida. “Temos conhecimento e capacidade, mas não temos uma confederação que cuide do polo aquático, como realmente deve ser feito, da base ao alto rendimento. Depois, quem leva pancada, e quem sempre se expõe, são os técnicos e os jogadores, que na verdade são as partes mais frágeis do sistema. Não adianta querer jogar tudo nas costas dos clubes, mas temos que dar graças a Deus que ainda existe alguns clubes, e são pouquíssimos, como o Pinheiros, exemplo de gestão e profissionalismo”, desabafa o treinador pinheirense.

Consciente da importância de formar o atleta, principal característica do Pinheiros, Chiappini sabe que o trabalho para que o esporte evolua no Brasil precisa ser mais amplo. “Não resolve também, o governo simplesmente dar dinheiro para as confederações porque um dos problemas é a gestão de recursos. Tem que incentivar crianças e jovens a jogar nas escolas, inclusive na periferia, e nas universidades. A cultura esportiva no Brasil, e de maneira geral na América do Sul, ainda é muito precária”.