Érica de Sena: a medalha que virou lágrimas

Quando disputava a prata, pinheirense foi punida a 300 metros da linha de chegada na Marcha Atlética de 20 km

Érica de Sena chegou a sentir o gosto da inédita medalha olímpica para o Brasil na Marcha Atlética de 20 km em Sapporo, 800 km ao norte de Tóquio, na madrugada brasileira desta sexta-feira (06). Após marchar 19,7 km em quase 1h30 de prova, a pinheirense recebeu a terceira advertência e a consequente punição de dois minutos praticamente em cima da linha de chegada, quando acelerava para se aproximar da colombiana Sandra Arenas na tentativa de transformar o bronze, garantido, em prata.

Desolada, a pernambucana de 36 anos foi obrigada a fazer um “pit stop”, postando-se às lágrimas na área reservada ao cumprimento de penalidade. Érica estava pendurada com duas advertências por flutuação, regra que impede a atleta de tirar os dois pés do chão simultaneamente. Também não é permitido dobrar a perna que está à frente. É necessário mantê-la reta. A brasileira acabou na 11ª posição (1h31m39) e deixou o Sapporo Odori Park indignada.

“O que aconteceu no final foi muito inesperado. A chinesa que estava atrás de mim é a atual campeã mundial e uma atleta muito rápida. A ideia era acelerar e ganhar distância dela. Deu certo e quando vi, já estava me aproximando da colombiana e brigando pelo segundo lugar. Depois disso, todos viram o que aconteceu. É muito duro por tudo que fiz, mas infelizmente aconteceu. Fiz o melhor que pude e dei tudo de mim por essa medalha”, resignou-se Érica.

A italiana Antonella Palmisano surpreendeu o trio chinês de favoritas para faturar o ouro com 1h29m12, Arenas ficou com a prata (1h29m37), enquanto a chinesa Hong Lui levou a prata (1h29m57). Nos Jogos Pan-Americanas de Lima, em 2019, Érica vivenciou um drama semelhante. Foi punida no final da prova quando liderava com folga e viu a medalha de ouro transformar-se em bronze. No Pan anterior, em 2015, em Toronto, conquistou a medalha de prata.

A pinheirense também bateu na trave do pódio com dois quartos lugares nos últimos Mundiais, Londres (2017) e Doha (2019), sendo que em Londres quebrou o recorde sul-americano com 1h26m59. Nos Jogos Rio 2016 foi a sétima colocada. A evolução de Érica se consolidou depois que foi morar em Cuenca com o marido e técnico equatoriano Andrés Chocho, há dez anos, e passou a treinar na altitude de 2.500 metros. Momentos antes da prova de Érica, Chocho foi o 19º na marcha de 50 km.

Prova escaldante – As Marchas, assim como a Maratona, têm sede em Sapporo porque a quinta maior cidade do Japão possui temperaturas, em média, três graus abaixo de Tóquio. A Marcha de 20 km foi disputada sob condições adversas para as 58 atletas: 33°C com umidade de 59%. Apesar do tempo nublado, o desgaste na prova foi verificado pelas constantes passagens das atletas pelo posto de hidratação, tanto para beber, quanto para jogar água sobre o corpo.

Érica adotou uma estratégia ousada: manter-se no pelotão da frente durante os 20 km. Apesar das dificuldades físicas, obteve êxito, oscilando entre a 1ª e a 11ª colocações. Com média de 13 km/h, a única brasileira na prova era a nona colocada aos 10 km, com 12 atletas no pelotão dianteiro. Após 60 minutos de marcha, subiu para o sexto lugar e seis minutos depois assumiu a liderança.

Há dez minutos do final, Érica desgarrou-se das três primeiras, caindo para a quinta posição. Com o semblante acusando desgaste, esforçou-se para recuperar uma colocação e herdou o terceiro lugar da chinesa recordista mundial Yang Jiayu (1h23m49), sem chances de ser alcançada, porém, punida pela terceira advertência, o que levaria a brasileira ao pódio. Minutos depois o drama se repetiria com a atleta número 14 de camisa verde, adiando os sonhos da marchadora de Camaragibe.

 

Foto: Reprodução TV Globo