Aos 46 anos, atleta do Pinheiros e da seleção brasileira encerra carreira de 30 anos repleta de conquistas e perseverança no handebol
Impulsionados pela paixão pelo esporte, os grandes ídolos costumam vivenciar conflitos emocionais no momento de optar pela aposentadoria. Marcos Paulo dos Santos, o Marcão, deixou que a ideia amadurecesse naturalmente, até constatar que as dores estavam tomando o lugar do prazer de jogar e interferindo no desempenho da atividade profissional que exerceu durante 30 anos, sendo 14 dedicados ao handebol do Esporte Clube Pinheiros.
A eficiência à frente das traves e o comportamento exemplar fora das quadras transformaram Marcão em sinônimo de goleiro no handebol do País. Antes de defender o Pinheiros, o goleiro de 46 anos fez história na Metodista de São Bernardo do Campo. Pela seleção, a primeira convocação foi para o Mundial Júnior da Argentina em 1995. Dois anos depois começou a jogar pela seleção adulta, a partir do Mundial de Kumamoto, Japão.
A carreira com a camisa do Brasil inclui mais cinco Mundiais e os Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004. Marcão ainda chegou ao pódio nos três Jogos Pan-Americanos que disputou, com as medalhas de prata em Winnipeg (1999) e Guadalajara (2011), além do ouro de Santo Domingo em 2003, que levou o Brasil à Olimpíada da Grécia no ano seguinte.
Pelo Pinheiros, conquistou oito títulos da Liga Nacional, sendo eleito o melhor goleiro do País, três do Pan-Americano de Clubes (2011, 2017 e 2021) e foi semifinalista do Mundial do Catar em 2021, além de 12 vezes campeão paulista entre Pinheiros e Metodista, seu primeiro clube. Marcão considera a “conquista” do título de sócio benemérito do Pinheiros como um dos momentos mais especiais de sua carreira.
“São 14 anos de Pinheiros, mas não imaginava um dia receber o título de benemérito. Sempre peço a Deus para me inspirar nas decisões mais importantes. A ida para o Pinheiros foi a escolha mais acertada da minha vida. Assim como me projetei na Metodista, o clube me ofereceu todas as oportunidades para eu evoluir, transformando-se na minha segunda família”, enaltece Marcão.
Momento certo
A ideia de parar vinha amadurecendo há alguns meses. “Chegou a hora de passar o bastão. O Pinheiros está com excelentes goleiros. São muitas as dores que comprometem meu rendimento. Estou praticamente sem ligamentos no joelho direito, após várias cirurgias. Desde os tempos do Hortelan eu já especulava com ele a ideia de deixar a quadra”, revela o goleiro.
Apesar da aposentadoria, Marcão demonstra entusiasmo, sem qualquer lamento de nostalgia. “Estou muito feliz e sou muito grato ao Pinheiros. Tenho a certeza de que seguirei servindo ao clube, inclusive já conversei com o professor Washington Nunes”, afirma Marcão. O treinador Nunes chegou ao Pinheiros em agosto para ocupar o cargo de supervisor técnico em substituição a Sergio Hortelan, falecido em julho.
Reconhecimento e gratidão
Desde julho, Hortelan, referência nacional do handebol, deixou uma lacuna no Pinheiros após 28 anos no clube. O primeiro contato entre o treinador e o goleiro foi em 1995 na seleção júnior. “Desde os tempos da Metodista eu queria muito vir para o Pinheiros para treinar com o Hortelan. Tornou-se um amigo e me passou vários conselhos para que eu evoluísse na quadra e pessoalmente. Eu o incluí na minha família. Meus pais o respeitam muito”, recorda Marcão.
Apesar de mais recente, a relação com o novo técnico do Pinheiros já se mostra cordial. “Tive a oportunidade de trabalhar com o Washington na seleção. Nos clubes sempre fomos adversários. É um profissional supercompetente que irá oferecer o que o clube necessita. Ele tem me dado apoio fora do comum em relação à aposentadoria”, elogia o goleiro, que destaca também o caráter do treinador.
“Ele demonstrou uma condição muito humana em zelar pela saúde e bem-estar do atleta, preocupando-se com nosso sentimento. Estávamos abalados emocionalmente diante da ausência do Hortelan. O professor não está medindo esforços para nos apoiar e preparar o time da melhor maneira possível em todos os aspectos”, exalta Marcão.
Tudo pelo handebol
Além das perspectivas de seguir prestando serviços ao Pinheiros, Marcão se dedica há quatro anos à preparação de goleiros na MF16 Studio, academia de treinamento funcional que gerencia em sua cidade natal, Santo André, ao lado da esposa Fernanda, ex-jogadora de linha da seleção brasileira. “Nosso foco é o goleiro, mas também estamos nos dedicando ao aperfeiçoamento dos movimentos de jogadores de linha. O mais importante é trabalharmos em favor do desenvolvimento do handebol”, define o eterno camisa 16 do Esporte Clube Pinheiros.
Foto de destaque: @oliviarbfotos