Resistir, construir e avançar: Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha

Conheça um pouco da história da origem do dia e saiba porque a data é tão importante

Resistir, construir e avançar são verbos que podem facilmente ser utilizados para definir a trajetória das mulheres como um todo, mas ganham ainda mais sentido quando nos referimos ao papel histórico das mulheres negras no mundo. Foi exatamente norteado por este pensamento que vimos nascer o Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, comemorado em 25 de julho.

No Brasil, a mulher negra está no topo da cadeia de vulnerabilidade da sociedade quando analisados fatores como: taxa de homicídios, inclusão no mercado de trabalho, disparidade salarial, condições de trabalho e desemprego. E mesmo com essas sociais, elas são maioria e ao longo dos anos de forma natural, acabaram se tornando líderes dentro de suas respectivas comunidades, brigando pela conquista de direito e espaço.

Hoje podemos comemorar pequenas conquistas, com elas marcando presença na política, no mercado de trabalho, no esporte e em outros setores da sociedade. Mas sabemos que ainda há muito pelo que lutarmos e por isso o dia 25 de julho é uma data tão importante, pois mais do que comemorar, é uma oportunidade para refletirmos, darmos voz e fortalecermos ainda mais a luta da Mulher Negra.

O Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha foi inspirado no Dia da Mulher Afro-Latina-Americana e Caribenha (31 de julho), criado em julho de 1992. No Brasil, no entanto, em 2 de junho de 2014, foi instituído pela Lei nº 12.987, que o dia 25 de julho seria o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, homenageando assim, as mulheres negras por meio de uma mulher que foi símbolo de resistência e liderança na luta contra a escravização.

Quem foi Tereza de Benguela?

Tereza de Benguela foi uma líder quilombola que ajudou tanto comunidades negras, quanto indígenas, na resistência à escravidão no Século XVII. Ela assumiu o comando do Quilombo Quariterê, localizado no Mato Grosso, após a morte de seu marido, José Piolho, liderando o espaço por décadas.

O que mais chamou a atenção em relação à liderança de Tereza, foi sua visão vanguardista e estratégica na forma de liderar, muito à frente do seu tempo. Ela chegou inclusive a criar uma espécie de parlamento e um sistema de defesa. Além disso, no local se cultivava algodão para produção de tecidos e havia também plantações de milho, feijão, mandioca, banana, entre outros.

 

Representatividade Preta nas Olímpiadas

Foi a partir de Tereza Benguela e outras grandes personalidades, que a mulher negra pode, aos poucos, ver-se representada e ganhar forças em vários setores da sociedade, como é o caso do esporte. Em relação às Olímpiadas, a primeira vez que uma mulher negra representou o Brasil foi na edição de Londres em 1948.

Melânia Luz: a velocista paulistana fez história ao se tornar a primeira mulher preta a integrar a delegação brasileira, nas Olimpíadas de Londres em 1948. Ela disputou as provas de 200m e do revezamento 4x100m, estabelecendo um novo recorde sul-americano. Sua trajetória no esporte foi extensa, tendo competido até 1998, quando completou 70 anos.

Wanda dos Santos: foi a segunda brasileira negra a representar o Brasil em uma Olimpíada, nos Jogos de Helsinque, na Finlândia, em 1952, onde quebrou o recorde sul-americano dos 80m com barreiras.

Aída dos Santos: superou as injúrias raciais e a repressão familiar para fazer história nas Olimpíadas de Tóquio em 1964. Sem estrutura e com o pé quebrado, conseguiu um 4º lugar no salto em altura – melhor desempenho feminino do Brasil na história dos Jogos até então. Sua marca perdurou por 30 anos como recorde sul-americano.

Irenice Rodrigues: foi recordista continental dos 800m. Em plena ditadura militar, enfrentou forças políticas para disputar os Jogos Pan-Americanos de Winnipeg, no Canadá (1967). Voltou a estabelecer o recorde sul-americano em uma modalidade considerada masculina e protestou contra as más condições dadas aos atletas, em especial, aos negros. Ela chegou a organizar uma greve contra o Comitê Olímpico do Brasil e acabou sendo desligada das Olimpíadas de 1968, no México, após um incidente, tendo seus registros esportivos eliminados.

Fofão: única jogadora de vôlei com três medalhas olímpicas. A ex-levantadora Hélia Pinto, a Fofão, foi convocada pela primeira vez aos 17 anos e três anos depois, conquistaria sua primeira medalha de bronze nas Olimpíadas de Atlanta (1996), feito que veio a repetir nos Jogos de Sydney (2000) e depois se consagrou com o ouro em Pequim (2008).

Janeth Arcain: um dos símbolos da seleção de basquete. Possui duas medalhas olímpicas: prata nos Jogos de Atlanta (1996) e bronze nas Olimpíadas de Sydney (2000).

Daiane dos Santos: a gaúcha ganhou notoriedade internacional aos 16 anos, quando subiu ao pódio do Pan de Winnipeg (1999). Quatro anos mais tarde, se tornou a primeira campeã mundial de ginástica do Brasil, quando conquistou o ouro no solo ao som de Brasileirinha. Participou de quatro Olimpíadas – Sydney, Atenas, Pequim e Londres.

Ketleyn Quadros: foi a primeira brasileira a conquistar uma medalha olímpica em esporte individual. Nas Olimpíadas de Pequim (2008), a judoca foi bronze na categoria até 57kg.

Adriana Araújo: foi a primeira medalhista olímpica do boxe feminino. Ela colocou seu nome na história da modalidade ao conquistar a primeira medalha olímpica, nos Jogos de Londres (2012).

Rafaela Silva: conquistou o ouro na categoria peso leve (57kg), em casa, nos Jogos Olímpicos do Rio (2016). Naquele momento, ela se tornou a única judoca brasileira campeã olímpica e mundial (2013).

No Pinheiros

Considerado o maior Clube Poliesportivo da América Latina e sempre contribuindo para o desempenho do Brasil em Jogos Olímpicos, o Pinheiros também conta com grandes nomes de mulheres negras que fazem história no esporte. O Clube costuma ser um dos principais fornecedores de atletas para as delegações brasileiras que vão aos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Na última edição, realizada no Rio de Janeiro em 2016, foram 68 atletas, dos quais 11 eram Mulheres Negras. Para os Jogos de Tóquio, foram convocados 41 atletas pinheirenses, incluindo-se oito Mulheres Negras.

Pinheirenses Negras – Rio de Janeiro 2016: No Atletismo – Andressa Oliveira (lançamento do disco), Eliane Martins (salto em distância), Fabiana Moraes (100m c/ barreira), Geisa Arcanjo (arremesso do peso), Kauiza Venâncio (200m e rev.4x100m), Rosangela Santos (100m e rev.4x100m); Na Esgrima – Bia Bulcão (florete) e Taís Rochel (florete); No Levantamento de Peso – Rosane dos Santos (75kg); Na Natação – Joana Maranhão; No Remo Paralímpico – Claudia Sabino (Single Skiff AS).

Pinheirenses Negras – Tóquio 2020/21: No Atletismo – Andressa Oliveira (lançamento do disco), Eliane Martins (salto em distância), Erica Sena (marcha atlética), Geisa Arcanjo (arremesso do peso), Rosangela Santos (100m e rev.4x100m), Vitória Rosa (200m e rev.4x100m); No Judô – Maria Suelen (+78kg); No Remo Paralímpico – Claudia Sabino (Single Skiff AS).

 

Reforçando seu protagonismo e se afirmando como um Clube que procura estar sempre se adequando ao período atual e às necessidades sociais, o Esporte Clube Pinheiros criou em novembro de 2019 um Programa de Inclusão e Diversidade – Pinheiros Inclui.

A ideia do Programa é construir um ambiente de trabalho cada vez mais colaborativo, respeitoso, que reconhece cada indivíduo como de fato ele é. E para isso todas as ações têm como foco cinco grupos: Aprendizagem – Linha de partida; Pessoas com deficiência – PCD – Além da lei; Raça – Todas as etnias; Gênero – Espaço para todos; e Seniores e Troca de experiências.

Sendo assim, o Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha vem totalmente ao encontro aos ideais do Programa e o Clube não poderia deixar a data passar em branco.