Série “Gambito da Rainha” aumenta procura pelo xadrez

Imagem: Netflix/Reprodução

Cresce procura dos associados do Esporte Clube Pinheiros pela modalidade

O Esporte Clube Pinheiros tem o xadrez entre seus esportes há quase 100 anos. Com a pandemia, o esporte teve que se adaptar às competições on-line, mas se engana quem pense que os adeptos diminuíram durante a quarentena. Ocorreu exatamente o oposto.

“Além da série da Netflix, O Gambito da Rainha, que democratizou o esporte para o mundo, temos no Clube, Herman van Riemsdijk como professor e jogador. Herman representou o Brasil em 11 olimpíadas e sua maestria conquistou novos jogadores e associados no Pinheiros” constata o presidente do Pinheiros Ivan Castaldi Filho.

Herman e os seus dois filhos, que também são professores de xadrez no Esporte Clube Pinheiros, perceberam movimentação mais intensa das mulheres, assim como é mostrado na série da TV, em que uma mulher é a protagonista de jogos intrincados e longos de xadrez.

A série é baseada no livro homônimo, escrito por Walter Tevis em 1983, e  lançado pela Netflix em 2020. Nos primeiros 28 dias após o lançamento, já contava com 62 milhões de visualizações  e o número só cresce em 2021. A trama narra a história de Beth Harmon (Anya Taylor-Joy), uma menina órfã prodígio no xadrez. A série se passa na década de 60, quando Beth, com 22 anos, precisa controlar a sua dependência de substâncias para se tornar uma grande enxadrista.

Para o jornal The Washington Post, o interesse no xadrez aumentou durante o isolamento social trazido pela crise do coronavírus, mas “O Gambito da Rainha” fez explodir a democratização do esporte. A empresa de jogos de tabuleiro Goliath afirmou ao site Bloomberg que a venda de kits de xadrez aumentou 1.100%, entre novembro e dezembro de 2020, em relação ao período no ano anterior.

A plataforma de transmissão Twitch, registrou mais de 70 mil espectadores conectados no dia 11 de dezembro para assistir a semifinal do Campeonato de Xadrez de Velocidade. A modalidade também se popularizou em sites específicos como o Chess.com que aumentou de 25 mil para 125 mil o número de pessoas inscritas diariamente na plataforma. Já o Lichess, registrou 78 milhões de partidas online.

A pequena Luíza Amaral Pennewaert , de 11 anos, é uma das mulheres praticantes da modalidade e já chegou à semifinal do Campeonato Brasileiro de Xadrez Escolar em 2019. Aos sete anos começou a aprender o jogo na escola se tornou uma das praticantes mais assíduas no Pinheiros.

“Era uma matéria e no começo não gostava muito. Então fui fazer robótica e odiei. Voltei a praticar xadrez e comecei a vencer as partidas, o que me levou a disputar campeonatos. Adoro montar uma estratégia diferente em cada jogo, analisar o outro jogador”, afirma a pinheirense.

Luíza conta que não teve dificuldade na aceitação, porém, ainda vê poucas crianças se interessando pelo esporte. “Aqui em casa eu fui a primeira e agora jogo com meus primos que começaram a se interessar, também. Inclusive uma das minhas tias comprou um tabuleiro recentemente para aprender”. Luíza se prepara para disputar o circuito Xeque-Mate em março.

Luiza e o troféu de vice campeã, após cinco vitórias em seis jogos (Divulgação / ECP)
Luiza e o troféu de vice campeã, após cinco vitórias em seis jogos (Divulgação / ECP)

O professor Herman destaca a adequação às aulas e aos jogos, sem que o praticante saia de casa. “Hoje, temos uma média de 30 a 40 alunos por professor. Tenho dois filhos que também são professores também de Xadrez. Passei essa paixão para eles. Temos alunos desde os 5 anos até os 80, e desde o início da pandemia vimos aumentar o número de associados entre os matriculados, inclusive nas aulas dos competidores, que se tornou on-line, o jogador não precisa se deslocar até o Clube”, diz o enxadrista.

Segundo Herman, a série da TV serviu para desmistificar um pouco do Xadrez como um esporte: “Por muito tempo as pessoas acreditavam que não era um esporte. Mas nossas particularidades são esportivas e competitivas. É necessário ter um bom preparo físico para lidar com uma tensão constante por cinco ou seis horas, sentado”. Entre os benefícios, o xadrez contribui para que o raciocínio se torne mais rápido, matemático e estratégico, aumenta a concentração e estimula a paciência. Ajuda ainda a adquirir maior controle emocional e a lidar com perdas. Desenvolve a capacidade de resolução de problemas e auxilia no desempenho escolar.