Uma pesquisa feita pela The Athletics Association (EUA) e publicada pelo New York Times na véspera do COI divulgar o adiamento dos Jogos de Tóquio, apontou que 78% dos 4.000 atletas entrevistados nos cinco continentes, desejavam que a Olimpíada de 2020 fosse prorrogada. Entre técnicos e atletas do Esporte Clube Pinheiros a proporção não é inferior. A maioria aplaudiu a decisão do Comitê Olímpico Internacional.
Três edições dos Jogos já haviam sido canceladas devido às duas guerras mundiais, mas nenhuma adiada, até hoje. Olympias (do latim) significa justamente o intervalo de quatro anos entre os Jogos na Grécia antiga, obrigatoriamente preservado pelo COI. Técnico da seleção brasileira na última olimpíada, os Jogos Rio 2016, e coordenador de polo aquático do Pinheiros, o experiente Roberto Chiappini analisou os efeitos do adiamento dos Jogos para 2021, pontuando os prós e contras da inédita situação.
“O ponto mais importante, foi tomarem uma decisão. O adiamento era o mais correto diante do que está acontecendo no mundo. O ano olímpico é muito duro para o atleta. A pressão vai aumentando e o calendário não para, com campeonatos sul-americanos, europeus, mundiais e pré-olímpicos, todos seletivos para os Jogos. Foi uma definição importante para os atletas”, afirma Chiappini.
Prós e contras – Com uma visão mais abrangente dos efeitos do adiamento, o treinador pinheirense se mostra preocupado com a condição dos considerados ‘veteranos’. “Os atletas mais velhos terão de reprogramar o pico de seus desempenhos, anteriormente previsto para meados de 2020. Isso vai interferir fisicamente. Imagine quem está na melhor forma atualmente. Será que vai conseguir manter-se no auge por mais um ano?”, questiona Chiappini.
“Quando se adia um evento dessa magnitude, sempre haverá os prós e contras. No polo, assim como em outras modalidades, alguns atletas já estavam se programando para encerrar a carreira após os Jogos e, agora, terão de repensar suas decisões”, avalia Chiappini, também apreensivo com a situação que o esporte em geral enfrenta no País.
“A redução nos valores do Bolsa Atleta e da LIE – Lei de Incentivo ao Esporte – já haviam provocado um duro impacto neste ano, principalmente para o Pinheiros, clube que mais cede atletas à delegação olímpica brasileira. Depois vem o coronavírus e causa o remanejamento dos calendários de todos os esportes. É uma situação delicada”, observa Chiappini.
Ajustes inevitáveis – O técnico do Pinheiros e da seleção nos Jogos de 2016, sugere que o início da temporada seja reavaliado. “No polo aquático, o ideal seria cancelar, e não adiar, tudo o que está previsto para o primeiro semestre e iniciar o ano a partir do segundo semestre, no momento em que for possível, adequando-se às condições financeiras”.
A filha de Chiappini, Izabella, considerada a segunda melhor jogadora do mundo em 2015, foi artilheira da seleção brasileira nos Jogos Rio 2016 e no ano seguinte se naturalizou italiana. Atualmente defende o Sis Roma e a seleção da Itália. A atleta está em quarentena em São Paulo e falou com o pai sobre a situação da modalidade no país onde mora e joga.
“Na Itália o polo é muito mais forte do que a natação. Os clubes e atletas não veem a hora do retorno das competições para que o dinheiro volte a girar. As piscinas, muitas vezes alugadas, têm um custo elevado, suprido com cursos, escolinhas e outras atividades aquáticas, todas paralisadas. Nos esportes terrestres, os atletas ainda conseguem correr, saltar, etc, mas no polo não há treino sem piscina. É impossível manter uma equipe apenas no seco”, conclui o pinheirense Roberto Chiappini.
Foto: Daniel Vorley / ECP